O Vinho do Porto é um dos grandes vinhos clássicos do mundo e nenhuma refeição, formal ou informal, estaria completa sem a sua presença.
Tal como todos os vinhos clássicos, o vinho do Porto é o resultado de uma combinação única de clima, solo e de uva, na qual várias gerações, munidas de habilidade humana e dedicação, têm trabalhado para poder expressá-lo como vinho prodigioso, em toda a sua acepção. À semelhança de outros vinhos clássicos, o seu apelo é atemporal, tão relevante hoje quanto o era há séculos passados, na altura em que os primeiros vinhos do Porto Croft foram produzidos.
Por vezes, algumas pessoas podem hesitar antes de servir vinho do Porto aos seus convidados, talvez por receio de não escolher o vinho apropriado ou de cometer um erro. As seguintes notas destinam-se a explicar os conhecimentos básicos sobre o vinho do Porto, para dissipar alguns dos seus mistérios.
A forma como o vinho do Porto envelhece molda a sua personalidade e estilo.
Em termos gerais, há duas grandes categorias de vinho do Porto: o envelhecido em madeira (wood aged) e o envelhecido em garrafa (bottle aged). A grande maioria dos vinhos do Porto são envelhecidos em madeira, o que significa que são totalmente amadurecidos em cascos ou tonéis de carvalho e que podem beber-se mal sejam engarrafados.
O principal estilo de vinho do Porto envelhecido em garrafa é o Porto Vintage.
O vinho do Porto Vintage é o melhor e mais raro de todos os vinhos do Porto, o mais procurado pelos apreciadores de vinho, colecionadores e investidores. É uma seleção dos melhores vinhos produzidos num ano excepcional e que representa apenas uma porção muito pequena da colheita. Uma garrafa de vinho do Porto Vintage deve sempre ser armazenada deitada para que a rolha fique em contato com o vinho e não seque.
O vinho do Porto Vintage geralmente permanece por menos de dois anos em madeira, geralmente num grande tonel. É então engarrafado e continua a envelhecer em garrafa. O vinho do Porto Vintage é excelente quando apreciado jovem, mas se for deixado a envelhecer por muitos anos ou décadas em garrafa vai lentamente desenvolver aromas complexos e sublimes que são a insígnia de um Porto Vintage maduro.
Vinho do Porto Vintage Declarados
Os vinhos do Porto Vintage estão divididos em duas categorias: os vintages declarados e os vintages Single Quinta, por vezes, também conhecidos como vintages clássicos e não clássicos.
Os anos declarados como vintage são considerados os melhores anos, produzindo vinhos de grande concentração e longevidade. Estes são geralmente loteados com os melhores produtos provindos de mais do que uma propriedade. Os vinhos do Porto declarados vintage pela Croft, embora baseados nos vinhos da Quinta da Roêda, podem por vezes também conter vinhos de outros grandes vinhedos.
Vinhos do Porto Single Quinta Vintage
Nos anos em que uma casa produtora de vinho do Porto não declare um Vintage, pode decidir lançar um vinho do Porto Single Quinta Vintage. Ao contrário dos Vintages declarados que podem ser loteados a partir da produção de mais do que uma propriedade, os vinhos do Porto Single Quinta Vintage são produzidos com os melhores produtos de uma única propriedade. Normalmente, são mais suaves, arredondados e mais precoces do que os Vintages declarados e são também menos dispendiosos. Considerando que um Vintage declarado pode levar vinte ou trinta anos para atingir a maturidade completa, os Vintages Single Quinta estão normalmente prontos para beber após alguns anos da colheita. Os Vintages Single Quinta representam uma excelente relação custo-benefício e são uma excelente opção de consumo imediato.
Dentro dos vinhos do Porto envelhecidos em madeira, é possível distinguir três principais estilos.
Em primeiro lugar, temos os vinhos do Porto frutados e encorpados que incluem o Ruby, o Ruby Reserva (como o Croft Distinction ou o Croft Indulgence) e o Late Bottled Vintage. Estes vinhos envelhecem geralmente por não mais de cinco ou seis anos em tonéis de carvalho de grande porte, que normalmente tem capacidade para pelo menos 20 mil litros de vinho. Aqui, o contacto com a madeira e com o ar é relativamente limitado. Como resultado, os vinhos amadurecem muito lentamente e conservam o seu sabor frutado, o seu vigor e a cor vermelha escura. Este estilo de vinhos é a escolha perfeita para a clássica harmonização de vinho do Porto e queijo ou para beber no final de uma refeição, talvez com um prato de trufas de chocolate negro.
Em seguida, temos vinhos do Porto ricos e aveludados, que tiveram o benefício de um maior contato com a madeira, sendo envelhecidos em pequenos cascos de carvalho e por períodos mais longos. Estes incluem vinhos do Porto Tawny, incluindo os sublimes Tawnies com indicação de idade, como o Croft de 10 e 20 anos. A característica do vinho do Porto Tawny é sua sedutora tonalidade âmbar e o seu opulento sabor a frutos secos, a especiarias, a tarte de ameixa. Os vinhos do Porto Tawny são excelentes vinhos de sobremesa, especialmente deliciosos com um crème brulée ou com um prato de figos. Os Tawnies são também uma excelente escolha para se beber no verão pois podem ser servidos ligeiramente frescos.
Por último, existem os vinhos do Porto brancos. Estes são geralmente envelhecidos em tonéis por um tempo relativamente curto para que desenvolvam suavidade e complexidade, mas mantenham a sua frescura frutada. Os vinhos do Porto brancos fazem um perfeito aperitivo para se servir fresco com um prato de azeitonas ou de amêndoas torradas e são também um excelente acompanhamento para o foie gras.
Uma garrafa de vinho do Porto envelhecido em madeira não requer nenhum tratamento especial, mas deve-se armazená-la na posição vertical, num local escuro e fresco, se possível longe da luz direta. Não há necessidade de decantar um vinho do Porto envelhecido em madeira, pois este vai permanecer em bom estado por seis semanas ou mais após a garrafa ter sido aberta pela primeira vez.
As uvas utilizadas para produzir vinho do Porto são cultivadas na região do Douro Superior, no nordeste de Portugal, uma das regiões vinícolas mais belas do mundo. Esta foi a primeira área vitícola a tornar-se demarcada e regulamentada por lei, em 1756, tornando o vinho do Porto na denominação de origem controlada mais antiga.
A região do Douro Superior fica a cerca de 100 quilómetros da costa e está abrigada dos ventos frescos e húmidos que sopram do oceano Atlântico pela cadeira montanhosa do Marão. Consequentemente, a região do Douro é fria no inverno e muito quente e seca no verão. Por se tratar de uma região montanhosa, a maioria das vinhas estão plantadas em socalcos, muitos apoiados por antigos muros de pedra, pertencendo estes últimos às diversas quintas ou propriedades de exploração vitivinícola.
O solo das vinhas da região do Douro é composto por xisto, daí o seu aspecto muito rochoso. Este solo é rico em nutrientes, mas é de drenagem livre, o que obriga a videira a empurrar as suas raízes na profundeza no solo ou através de fissuras na rocha para procurar água. O clima quente e seco assim como o solo rochoso significam que os rendimentos são muito baixos – e não muito mais do que meio litro por videira nas principais propriedades, como a Quinta da Roêda – onde o mosto é extremamente concentrado, produzindo vinhos com extraordinária riqueza e profundidade de sabor.
Podem usar-se cerca de trinta castas para produzir vinho do Porto, mas hoje em dia apenas se utilizam cinco ou seis das melhores castas em novos plantios.
Na sua maioria são castas autóctones da região do Douro e são específicas para a produção de vinho do Porto. Estas incluem a densa e concentrada Touriga Nacional, a encorpada e aromática Touriga Francesa, a firme e finamente constituída Tinta Roriz e a intensa e perfumada Tinta Barroca.
As uvas são colhidas à mão e a vindima geralmente começa na segunda quinzena de setembro, embora possa começar mais cedo nas áreas mais quentes situadas a leste.
Novembro-Fevereiro
Durante o inverno as vinhas têm um merecido descanso. No entanto, os produtores têm tudo menos descanso. Todas as videiras devem ser podadas para estarem prontas para a próxima vindima. Na maioria dos casos, esta tarefa é feita à mão. É uma tarefa longa e árdua que pode durar todo o inverno.
Meados de Março
À medida que o sol da primavera se faz sentir e que a temperatura média diária começa a subir, as vinhas e a sua seiva despertam. Este é o primeiro sinal do fim da dormência das videiras e do início do ciclo de crescimento. Um pouco mais tarde, os gomos vão desenvolver-se passando as escamas duras que os protegeram durante o inverno.
Abril-Junho
Este é um momento de crescimento, com o abrolhamento a enverdecer as vinhas. Todo este crescimento deve ser guiado e amarrado a arames com a mão, para garantir que as uvas não fiquem na sombra e para que o vento possa soprar através das videiras, afastando a doença e as pragas. O míldio e o oídio são uma ameaça, embora menos neste clima quente e seco do que em muitas outras regiões.
A floração começa em Maio, um dos momentos mais tensos para o produtor. Este é também o momento em que se deve fazer a desbastação das ervas que crescem entre as fileiras das videiras e nos muros dos socalcos. Estas devem ser apenas aparadas. A erva é útil porque protege contra a erosão nestas encostas íngremes, mas não deve competir com as videiras.
Normalmente em junho a vinha apresenta-se exuberante e repleta de folhas, assim como ostenta cachos de bagos verdes e duros escondidos entre a folhagem. O produtor deve estar presente nas vinhas todos os dias, monitorizando o estresse e observando os primeiros sinais de doenças ou pragas.
Julho-Agosto
O sol irradia calor, sugando a humidade do solo e, talvez, ameaçando as vinhas com a seca; nesta altura uma leve chuvada pode ser bem-vinda, mas muita humidade e precipitação podem trazer a ameaça de podridão. Entretanto, as uvas cresceram até ao tamanho de ervilhas grandes. Em torno da primeira semana de julho começam a mudar de cor: apenas uma pitada de roxo acastanhado em primeiro lugar, que se espalha e se aprofunda. Este é o pintor, a mudança de cor que indica o começo de maturação. No final de julho, as uvas já não vão crescer mais: agora o amadurecimento concentra-se nos açúcares, ácidos, taninos e pigmentos que irão definir os futuros vinhos.
Setembro-Outubro
É final de Setembro e tempo de começar a vindima. Ano após ano, os apanhadores voltam ao trabalho nas vinhas durante o dia e pisam as uvas ao som de um acordeão ao longo da noite. As uvas são ligeiramente esmagadas, e vertidas para os lagares. De pés lavados, os pisadores entram no lagar e pisam ritmicamente para trás e para a frente. O ar está impregnado com o aroma a uvas esmagadas. No preciso momento em que as leveduras transformam cerca de metade do açúcar da uva em álcool, é hora de proceder à fortificação. A aguardente vínica, incolor, neutra e jovem é adicionada – e a fermentação pára, deixando ficar o açúcar não fermentado e uma doçura exuberante no vinho do Porto final.
Fevereiro
O ponto central deixa de ser as adegas vinícolas do Douro para se passar à sala de provas, em Vila Nova de Gaia. Os vinhos jovens devem ser avaliados e o seu estilo julgado: são adequados para um Aged Tawny? Para um LBV? Ou talvez para um Vintage? Estes últimos serão os melhores vinhos da colheita, os que melhor mostram os aromas mais completos, os que apresentando maior coerência com o estilo da casa Croft e maior profundidade e vigor que lhes permita envelhecer por muitos anos em garrafa.
Março
Os jovens vinhos do Porto são trazidos da região do Douro até às caves Croft. Os vinhos que foram selecionados como tendo potencial para vinho do Porto Vintage são então armazenados em tonéis de carvalho onde permanecerão até à primavera do ano seguinte. Nesta fase, nenhuma decisão ainda foi tomada quanto a saber se vão ser engarrafados como vinho do Porto Vintage. Isso só irá acontecer um ano mais tarde, após os vinhos terem resistido ao tradicional teste de “dois invernos na madeira”.
Início de Março, Um ano depois
Sucede-se uma outra prova, e todos os vinhos reservados no ano anterior são provados. Alguns não vão revelar potencial para vinho do Porto Vintage e serão eliminados do processo de seleção. Aqueles que passam o teste, avançam para a próxima fase – o loteamento. Uma série de lotes serão feitos em pequena escala, na sala de provas. Cada vinho é selecionado pela sua contribuição específica para o lote. Alguns vinhos podem ser escolhidos pelo seu caráter aromático, outros para dotar estrutura ou profundidade . O objectivo em cada lote é combinar os componentes da forma mais harmoniosa possível, de modo a que o resultado seja equilibrado, completo e consistente com o estilo da casa Croft.
Final de Março, Um ano depois
Agora é altura de provar os lotes. O júri de provas prepara e prova tudo às cegas. As provas são muitas vezes “triangulares”, com o mesmo lote incluído duas vezes na mesma série para testar a precisão dos participantes. Cada provador deve atribuir uma pontuação a cada lote e escrever notas detalhadas . No final de cada sessão , o painel reúne-se para discutir os vinhos e determinar quais são os seus lotes preferidos. Se nenhum for considerado satisfatório, os provadores devem voltar à fase de criação de novos lotes ou fazer ajustes aos já apresentados.
Início de Abril, Um ano depois
Mas será este lote suficientemente bom? A decisão deve agora ser tomada quanto a saber se o lote escolhido merece uma declaração vintage. Esta é uma das decisões mais importantes na vida e reputação da empresa como produtora de vinho do Porto Vintage e, para tal, depende de uma avaliação precisa. Para um vintage ser declarado, o vinho deve ser de excelente qualidade e possuir a profundidade e o vigor que permitam que continue a melhorar em garrafa ao longo de muitas décadas na cave. Isso significa que este vinho será relativamente austero enquanto jovem, com uma estrutura firme, encorpada e de repleto de aderência tânica. A intensidade e concentração de sabor, que são o traço distintivo de um bom vinho do Porto Vintage, também são necessárias se queremos que o vinho continue a revelar complexas camadas de aroma ao longo de muitos anos.
Se for acordado que se justifica declarar, então o lote selecionado será composto nas caves, onde será permitido “casar-se” em grandes tonéis antes de ser engarrafado. Historicamente, a Croft só declarou cerca de três vindimas em dez.
23 de Abril
O dia 23 de Abril , dia de São Jorge, é uma das datas mais aguardadas do calendário vínico. É a data em que a Croft e muitas outras casas de vinho do Porto Vintage anunciam as suas intenções em relação à penúltima colheita. Por exemplo, no dia 23 de abril de 2013, declarou-se como vintage o ano de 2011. Quando todas ou uma esmagadora maioria das casas produtoras de vinho do Porto decidam declarar um vintage, este anúncio é conhecido como uma declaração geral. Mas nem todas as casas necessariamente declaram os mesmos anos . Considerações estilísticas, a localização geográfica das vinhas de uma casa e os efeitos do clima sobre castas individuais podem significar que uma casa é capaz de fazer um excelente vinho do Porto Vintage num ano, quando noutro não é. A Croft sempre teve uma visão estritamente individual e independente, avaliando os seus vinhos pelos seus próprios méritos e, por vezes, declarando vintages quando estes não eram declarados pela maioria das outras casas, por exemplo, o vintage de 2009. Se a Croft decidiu não declarar, mas em vez disso engarrafar um vinho do Porto Vintage Quinta da Roêda , um anúncio semelhante é feito para o comércio e imprensa. Se não houver nenhum anúncio, não haverá vinho do Porto Vintage.
Início de Maio
O lote final teve a possibilidade de descansar e de se harmonizar, e agora chegou a hora de mostrá-los ao mundo. As provas são realizadas em todos os principais mercados para o comércio, consumidores e imprensa. No caso de um ano vintage, a maior parte do vinho é vendido por altura da declaração.
A decantação é um processo simples e agradável. Trata-se de verter o vinho lenta e suavemente num decantador de modo a que o sedimento permaneça na garrafa.
Não se preocupe muito com o número exacto de horas de decantação entre a abertura de um vinho do Porto Vintage e o seu consumo. Um bom plano é abrir e decantar a garrafa um pouco antes dos seus convidados chegarem. Isso deve dar-lhe tempo de sobra para que os aromas (também conhecidos como o “nariz” ou o “bouquet”) abram até ao final da refeição e para que o vinho possa ser apreciado no seu melhor.
Se a garrafa veio diretamente da sua garrafeira, ou onde quer que a tenha armazenado, não há necessidade de deixá-la de pé antes de decantação. No entanto, se suspeitar que o sedimento possa ter sido recentemente agitado então o melhor é dar-lhe algum tempo para depositar.
Para evitar que as partículas de sedimento passem da garrafa para o decantador, há quem goste de decantar o vinho através de algum tipo de filtro. Os funis de decantação incorporam um filtro de metal e são úteis para este fim. A peneira de metal servirá igualmente bem. Se tiver à mão um simples pano de algodão muito limpo ou de musselina branca ou lisa, este também será um bom filtro. Qualquer tipo de coador ou filtro usado deve ser previamente lavado com água quente, nunca lavado com sabão ou detergente. Já os filtros de café de papel não devem ser utilizados porque afectam o sabor do vinho, mesmo se forem cuidadosamente lavados.
Algumas garrafas antigas de vinho do Porto Vintage têm uma marca de giz branco pintado num dos lados da garrafa. Isto indica que a garrafa foi armazenada com a marca branca para cima e deve segurar a garrafa na mesma posição quando a estiver a decantar. Se não houver marca de giz, segure na garrafa com o rótulo para cima. Para ser apreciado no seu melhor, o vinho do Porto Vintage deve ser bebido no dia em que a rolha é retirada pela primeira vez, antes que os aromas delicados e complexos, que se desenvolvem nas primeiras horas após a garrafa ser aberta, comecem a desaparecer.